O número de cães e gatos abandonados nas ruas de Ourinhos tem crescido de forma alarmante, sobrecarregando abrigos, ONGs e protetores independentes. O cenário, que já era delicado, se intensificou nos últimos meses e voltou ao centro do debate público com apelos de entidades locais que lutam diariamente pela proteção animal.
A advogada Anna Consuelo Merege, representante da Comissão de Defesa dos Direitos dos Animais da OAB Ourinhos, avalia que a cidade enfrenta uma crise silenciosa, agravada pela falta de estrutura e vontade política. “O Poder Público ainda não demonstrou interesse efetivo para desenvolver políticas sérias para a causa animal. A equipe atual é pequena, composta por profissionais de outras áreas, e não consegue lidar com a complexidade do trabalho”, afirma.
Segundo Anna, o abandono é crime previsto em lei, mas raramente resulta em responsabilização. A dificuldade de identificar os autores — já que os animais são deixados durante a noite ou em áreas afastadas — impede a punição. Ela defende a instalação de câmeras em pontos críticos e campanhas de conscientização, especialmente nas escolas. “A criação de abrigos não resolve. Estamos apenas transferindo o problema de lugar. Precisamos agir na raiz da questão”, reforça.
A advogada também cobra a criação de uma Secretaria Municipal exclusiva para a causa animal, separada da estrutura da Secretaria do Meio Ambiente. “É preciso equipe especializada, ambulatório, banco de ração e campanhas permanentes. A situação das protetoras independentes é insustentável. Muitas estão endividadas tentando socorrer os animais com recursos próprios.”
Apesar de ações pontuais, como campanhas de castração, a cidade ainda carece de um plano de longo prazo. Para Anna, a causa precisa ser tratada com a mesma agilidade com que o poder público organiza grandes eventos. “A compra de ração, por exemplo, está há meses parada. Enquanto isso, os animais seguem sendo descartados como lixo e quem tenta ajudar está esgotado.”
Outro ponto crucial, também destacado por organizações como o Projeto Canil Gaiola Aberta, é a conscientização da população. A ausência de campanhas educativas que mostrem as consequências do abandono e os deveres legais dos tutores contribui para a perpetuação do problema. Segundo o projeto, é essencial envolver a comunidade em ações preventivas, fortalecendo o senso de responsabilidade coletiva e promovendo o respeito à vida animal como valor ético e social.
De acordo com Anna Consuelo, denunciar é uma das formas de diminuir os impactos dessa crise. Ela orienta que a população denuncie casos de abandono à Secretaria do Meio Ambiente ou à Polícia Ambiental, mas destaca: “Sem provas — como fotos, placas de veículos ou testemunhas — é difícil agir. Por isso, é essencial mapear os locais mais críticos e monitorá-los.”
A crise do abandono animal em Ourinhos não é apenas uma questão moral ou de compaixão aos animais: é um problema de saúde pública, meio ambiente e dignidade. E, como lembra Anna, reconhecendo quem trabalha fazendo o máximo que pode, “ajudar um animal abandonado é, muitas vezes, o único gesto concreto que podemos oferecer diante de tanta omissão.”
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